Uma liga cada vez mais competitiva
A temporada 2020/2021 começou com tudo e já alcançou a marca de, em média, 20 partidas por equipe. O grau de competitividade apresentado por praticamente todas as equipes da liga surpreende positivamente, com a grande maioria delas aspirando uma vaga nos playoffs. A implementação do sistema de play-in*, que aumentou o número de vagas para uma chance de chegar à pós-temporada, parece ter dado às equipes mais fracas uma injeção de esperança na briga por algo além. Analisando os elencos e desempenho inicial, é possível apontar que apenas três franquias se encontram distante da disputa até aqui: Detroit Pistons, Washington Wizards e Minnesota Timberwolves, as únicas com aproveitamento de vitórias abaixo dos 30%.

Os Wolves entraram na temporada com a primeira escolha do draft em Anthony Edwards e a expectativa de um encaixe com as duas estrelas do time – o armador D’Angelo Russell e o pivô Karl Anthony-Towns. O veterano Ricky Rubio foi contratado de volta para servir como líder da segunda unidade, e Malik Beasley teve seu contrato renovado para ser um bom coadjuvante na equipe de Ryan Saunders. A questão é: KAT não consegue se manter saudável, tendo disputado apenas quatro partidas. Sem sua principal estrela e com problemas defensivos e ofensivos (a equipe é a sexta pior da defesa e o quarto pior ataque da liga), Minnesota traduz o desempenho ocupando a última colocação da Conferência Oeste, com cinco vitórias em 20 jogos. A franquia parece ter na volta do pivô a esperança da formação de uma dupla competitiva com Russell, adquirido via troca na última temporada. Contudo, desde a chegada do armador, a amostragem da dupla ainda é insuficiente, visto que os dois disputaram poucos jogos juntos. A avaliação do rendimento da equipe completa será crucial para futuras pretensões dos Wolves.
Os Pistons, por outro lado, entraram na temporada apostando no draft e na reformulação do elenco. Com duas escolhas na primeira rodada, a franquia optou pelo armador Killian Hayes e o ala Saddiq Bey. A presença de veteranos das respectivas posições em Derrick Rose e Blake Griffin oferece aos jovens duas referências de excelência para o desenvolvimento de seus jogos. O ala Jerami Grant, destaque na campanha do Denver Nuggets nos últimos playoffs, foi adquirido na free-agency para ser a cara do time, e vem correspondendo com médias de 23 pontos e 6 rebotes por jogo. Detroit ocupa a penúltima colocação da Conferência Leste, com cinco vitórias em 21 jogos. O treinador Dwane Casey parece não conseguir ajustar sua equipe dos dois lados da quadra, tendo a décima pior defesa e o sétimo pior ataque de toda a liga.
Por último, o Washington Wizards, dono da pior campanha de toda a liga. Protagonista em uma das grandes trocas da offseason, quando adquiriu o armador Russell Westbrook em negociação que mandou o ex-franchise player John Wall para Houston, a franquia da capital entrou na temporada com expectativas de voltar à disputa de playoffs. Com problemas de lesões e muitos jogos adiados por conta de protocolos de saúde contra o coronavírus, Washington realizou 17 jogos até aqui, vencendo apenas quatro. Westbrook ainda lida com incômodos no quadril, como o mesmo disse em entrevista após seus 41 pontos na vitória épica contra o Brooklyn Nets. O pivô Thomas Bryant, que vivia grande fase, perderá o restante da temporada por conta de uma ruptura dos ligamentos do joelho. A contratação do técnico Scott Brooks já vem sendo contestada, uma vez que a equipe não consegue vencer jogos mesmo com a estrela Bradley Beal tendo a temporada de sua carreira – lidera a liga em pontos por jogo com 35. Beal anotou pelo menos 26 pontos em todos os jogos até aqui, incluindo partidas de 60, 47 e 41 pontos: três derrotas. Alías, nas últimas 10 vezes em que marcou pelo menos 40 pontos, Beal saiu derrotado de todas: recorde na NBA. Ainda assim, segundo o insider Shams Charania, o jogador ainda não deseja deixar a equipe, embora muitas franquias já estejam de olho em uma possível troca.
Bradley Beal has so far expressed he wants to remain with the Wizards and has not indicated he prefers a trade, per sources.
Beal, however, feels frustrated for the portrayal of his situation in D.C.
The latest from @ShamsCharania & @FredKatz: https://t.co/Wt2qqAwZrX pic.twitter.com/llbWowZvWl
— The Athletic (@TheAthletic) February 2, 2021
Algumas outras franquias com desempenho abaixo do esperado são Dallas Mavericks, Miami Heat e New Orleans Pelicans. Cotadas para disputar playoffs antes da temporada, as três equipes se encontram fora da zona de classificação para a pós-temporada. Contudo, é coerente imaginar que vão se recuperar. Em Dallas, Luka Doncic já mostrou que é capaz de levar seus companheiros até lá. Já o Heat, vice-campeão ano passado, teve a confirmação que as estrelas Jimmy Butler e Bam Adebayo podem contar com seus companheiros para chegar longe. Em New Orleans, a situação é mais complexa. Apostando no técnico Stan Van Gundy para levar Zion Williamson e Brandon Ingram até seus primeiros playoffs, a equipe vem enfrentando problemas de defesa e espaçamento, e já busca alternativas no mercado de trocas.
The Pelicans, viewed as a key team in NBA trade market, are receiving calls on Lonzo Ball and JJ Redick from interested teams and have shown openness to discussing both, per sources.
More in latest Inside Pass at @TheAthletic: https://t.co/KpLWLLTMZ3
— Shams Charania (@ShamsCharania) January 26, 2021
De resto, é interessante ver equipes como New York Knicks, Cleveland Cavaliers, Charlotte Hornets e Chicago Bulls em posições de disputa na Conferência Leste. Caras marcadas em loterias de draft nos últimos anos, Knicks e Cavs têm os dois piores ataques da liga, mas o fato de também serem segunda e sexta melhores defesas faz com que ambos consigam vencer jogos. Hornets e Bulls têm em Gordon Hayward e Zach LaVine dois jogadores atuando em nível de estrelas, e o núcleo jovem ao redor de ambos vem dando resultado. No Oeste, Phoenix Suns e Memphis Grizzlies parecem ter se consolidado como equipes em nível de playoffs.
Com pouco mais de um quarto da temporada, ainda não é possível identificar franquias de fato decididas a perder jogos visando o próximo draft. A competitividade apresentada é excelente, e a manutenção desse cenário é essencial para o crescimento da liga. O sistema de play-in e as mudanças no sorteio da loteria parecem ter tirado um pouco do incentivo a um grande problema há anos enfrentado pela NBA: o tanking, que consiste em perder jogos para ter posições altas no draft. Quanto mais equipes competindo, maior o nível exibido e maior a qualidade do produto. Mantendo essa dinâmica, é provável que as temporadas sejam cada vez mais fascinantes.
*Play-in: sistema de confronto entre sétimo, oitavo, nono e décimo colocado para definir as duas últimas vagas dos playoffs. Sétimo e oitavo se enfrentam para ver quem fica com a sétima vaga. Quem perder recebe o vencedor do duelo entre nono e décimo para decidir a vaga final.
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