A história da camisa aposentada duas vezes

12 jogos de All-Star, 11 vezes All-NBA, 1 vez MVP do All-star, 5 vezes MVP 11 vezes campeão da NBA. Esse é o currículo de um gigante na história da NBA. o jogador com mais títulos e atual nome do prêmio de MVP das finais, uma carreira tão premiada que sua camisa foi aposentada duas vezes para fazer jus à sua grandeza.
Durante toda sua vida, Russell dedicou-se ao esporte tanto quanto ao ativismo político. Sua carreira na NBA o obrigou a enfrentar situações desumanizantes de racismo explícito. À época, a presença de negros na liga era rara. Bill foi o primeiro homem negro a se destacar nas franquias de Boston, uma região do país massivamente branca e racista. Ele foi vítima de racismo das torcidas adversárias assim como dos próprios fãs da franquia.O atleta sentiu que nunca recebeu o respeito devido por parte da mídia, dos fãs e da liga. Mesmo assim, Bill nunca se intimidou com os ataques sofridos e manteve-se forte na militância em favor da igualdade racial e direito dos negros no país.

Apesar de pouco valorizado em geral, Bill Russell teve na franquia Celta seu ponto de apoio na liga. A equipe tratava Russell como ele merecia. O Celtics defendia a liberdade de seu atleta para se manifestar e mostrava confiança de que sua posição como jogador continuaria a dar frutos devido a sua qualidade. A confiança da franquia em Bill era tanta que Red Auerbach, o grande gênio da fanquia Celta, ao se aposentar como técnico para assumir apenas a direção, indicou Bill Russell como seu sucessor. Bill assumiu o cargo de técnico da equipe virando um jogador-técnico. Ele então tornara-se o primeiro técnico negro na história da NBA. Com isso, Bill Russell tem dois títulos como jogador-técnico da liga. Seus números de conquistas durante a carreira nunca foram igualados até hoje.
Em 1969, Bill decidiu se aposentar. Como não poderia ser diferente, o Boston Celtics decidiu homenageá-lo aposentando sua camisa, para que ninguém mais utilizasse o número que ele eternizou. Porém, Russell recusou. O ex-atleta sentia que uma cerimônia não faria sentido com tudo que ele enfrentou em sua carreira na liga. Portanto, somente anos depois, em 1972 a franquia aposentou seu número. Quando Bill atuava como comentarista, ele estava escalado para comentar um jogo entre Celtics X Knicks no Boston Garden. Auerbach se movimentou para organizar a cerimônia que Russell merecia, mas novamente ele queria recusar. Após negociação, os dois concordaram em realizar a cerimônia, mas com a condição de que acontecesse de portas fechadas, apenas com a presença da família. Minutos antes do jogo contra os Knicks o lendário número 6 subiu para o teto do Boston Garden sob poucos olhares.

Apesar da homenagem, o Boston Celtics e Auerbach nunca ficaram satisfeitos com a forma que ela ocorreu. Os dois entendiam que Bill Russell merecia uma homenagem maior do que a realizada. Por anos, aquela foi a forma em que o maior campeão da NBA teria finalizado sua história com a franquia. Mas em 1999 a história mudou. 27 anos depois da cerimônia original, o panorama da liga havia mudado. A NBA se tornara mais popular, a liga expandira para muitos mais times e havia endurecido as políticas raciais. Não era mais permitido que as torcidas abusassem racialmente de um atleta. No país, a discussão aberta da questão racial havia diminuído o apartheid da população negra. Na liga, uma nova figura havia emergido. Um homem negro que vestia a 23 em Chicago era amado por todo o país. Com essa situação, Boston ofereceu a sua ex-estrela uma nova cerimônia de aposentadoria de sua camisa. Dessa vez, com público e festa como Bill Russell merecia.
Dessa vez o ex-atleta e treinador aceitou. Enfim, seus serviços ao Boston Celtics eram homenageados de forma correta. Sob uma salva de palmas dos fãs que ficavam em pé para homenageá-lo, o número 6 da franquia do Leprechaun subia para o teto da arena enquanto as lágrimas desciam no rosto de William Felton Russell, o Bill, maior campeão da história da National Basketball Association. Finalmente recebia o respeito que sempre mereceu.

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Kevin Leal Ver tudo
Jornalista em formação pela Escola de Comunicação da UFRJ, torcedor fanático da maior franquia da NBA e devoto de Marcus Smart. #CelticsBasketball