Senta aqui pra gente conversar (Parte I)
Poderia começar esse texto com um trecho de funk, sertanejo ou qualquer outro gênero musical; inúmeras músicas abordam a comunicação em suas letras.
A resenha com os amigos após um jogo é de lei.
Mas, o quão efetiva tem sido sua comunicação?
Todos os meus pacientes em algum momento irão me ouvir dizer:
“a comunicação é a base de qualquer relacionamento”, sou incisiva e até repetitiva diante da ocorrência e reincidência dessa demanda.
Focando no ambiente esportivo, falarei especificamente de dois importantes atores do cenário esportivo: atleta e técnico, por isso teremos duas partes.
Mas, hoje abordarei um fato ocorrido na temporada 2017/2018 da NBA e de grande relevância para o esporte: a importância da verbalização.
No dia 17 de Fevereiro de 2018, DeMar DeRozan, ala do Toronto Raptors, confirmou em suas redes sociais que estava sofrendo de depressão.
No momento da publicação, a campanha de DeRozan à frente da Equipe do Toronto Raptors, era quase inquestionável: a equipe era líder da Conferência Leste e DeRozan teve médias 23.9 pontos, 5.2 assistências e 4.0 rebotes por jogo.
Também na temporada 2017/2018, Kevin Love, astro do Cleveland Cavaliers, em um texto publicado no The Player’s Tribune, o ala-pivô revelou ter sofrido um ataque de pânico durante um jogo. ” Todos estão passando por algo que não conseguimos ver. O negócio é, porque não conseguimos ver, nós não sabemos quem está passando por o que, não sabemos quando e nem o motivo. Saúde mental é uma coisa invisível, mas toca todos nós, uma hora ou outra. Faz parte da vida.”
Precisamos conversar sobre nossas emoções, precisamos alinhar os quatro pilares do esporte: físico, técnico, tático e psicológico; e acima de tudo, precisamos desmistificar a imagem do atleta herói. Atletas são acima de tudo seres humanos. Acreditem ou não, com vários problemas que acometem qualquer pessoa.
Porém, a iniciação esportiva baseada na conquista, na motivação extrínseca, nos valores contratuais; propicia uma gigantesca inversão de valores. Propicia além disso, seres humanos que falam muito pouco de si, do que e de como percebem os problemas que os afetam dentro e fora do cenário esportivo, levaram para sua vida cotidiana aquele garoto que não podia argumentar com o treinador (mas a relação treinador – atleta é assunto da parte II).
É uma das formas de sobrevivência no esporte; mais fácil calar-se e só treinar. Prejudicando assim o entendimento de que a comunicação e a verbalização são excelentes ferramentas terapêuticas.
É interessante recorrer a psicoterapia pois o psicólogo consegue mediar inúmeras questões, trilhar um caminho pouco explorado, trabalhar a aprendizagem de um novo repertório de comportamento; entre outras possibilidades.
Por ser atleta, vale não assumir fragilidades e ter obrigação de aguentar tudo?
“Não vai ao psicólogo quem tem problemas. Problemas todo mundo tem. Vai ao psicólogo quem quer resolvê-los”.
Por Mariana Moura – Psicóloga Clínica e Esportiva – CRP 01/14263
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Adorei o texto!! Muito bom! Nunca tinha lido nada sob essa perspectiva!! 😉
Obrigada pelo retorno, Lorena! Fico muito feliz e logo menos vem a parte II!